Aborto espontâneo é o tipo mais comum de perda de gravidez e ocorre quando um embrião fetal morre antes da 20ª semana da gravidez. O aborto espontâneo acontece porque o feto não está se desenvolvendo normalmente. “O aborto espontâneo é uma das causas mais comuns de sangramento no começo da gestação, podendo ocorrer 15 a 20% das gestações”, afirma Dra. Roseli Mieko Yamamoto Nomura, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
A tristeza de uma mulher que sofreu um aborto espontâneo é pouco compreendida, acredito que só entendido por outra mulher em situação similar. Algumas pessoas tentam minimizar a situação, mas o que não sabem estão fazendo a mulher a sentir-se ainda pior. Separei algumas perguntas e afirmações que aborrecem as mães no doloroso luto perinatal. E não é porque é uma coisa “comum” que não é dolorido. Pensem nisso!
- “Era só um feto, não era um bebe de verdade”. Para muitas mães a conexão com o bebe começa quando desconfiam que estão grávidas. E se a mulher engravidou desejando, o bebe era real e já era amado… já foram depositados nessa gestação sonhos e planos. Não importa a fase do aborto, para a mãe o bebe sempre será o seu bebe.
- “O bebê não estava destinado a nascer” ou “Não era para ser”. A mãe vai entender que ela não está destinada a ser mãe. Tem observação mais cruel?
- “Se não continuou foi porque não tinha que nascer” Esse é o maior clichê que as mulheres que perderam um bebe escutam. Essa frase tenta convencer a mãe que o pesadelo que ela está vivendo é a melhor coisa que poderia acontecer. Não, a melhor coisa seria o bebe nascer com saúde!
- “Você é jovem, ainda vai ter outra oportunidade”. Vale lembrar que cada filho é único. Uma mulher que perde o bebe sempre pensa “será que vou engravidar de novo? ” E por mais comum que seja o aborto espontâneo vem o medo quando grávida “será que vou ter outro aborto espontâneo? ” E lembre-se esse novo bebe caso venha simplesmente será OUTRO neném.
- “Pelo menos você sabe que você pode engravidar novamente”. A maioria dos casais não expõe as tentativas e fracassos durante as tentativas de engravidar. Você não sabe o quanto essa mulher lutou para engravidar, quantos exames dolorosos que ela fez, quanto remédio e hormônio que ela tomou e principalmente o quanto ela gastou não só financeiramente como emocionalmente. Então quando se descobre a gravidez após tantas tentativas é uma alegria imensa, e na morte a tristeza é similar. A mulher que sente o aborto espontâneo sente que está sendo privada do direito de ser mãe.
- “Melhor agora no começo, do que mais para frente.” Não se preocupe, a mãe sabe que poderia ser pior, mas também acredita que poderia ter tido um final feliz como muitos tem. Ela procura na internet sobre o porquê ocorre e quanto ocorre. Ela se sente na porcentagem azarada do caso. A ideia que aborto espontâneo é normal até o terceiro mês, causa insensibilidade em quem não viveu a situação. A dor física e emocional existe, mesmo que a situação aconteça no começo da gestação. E outra, quando gravidas queremos que chegue logo no terceiro mês para passarmos por esse período sabático.
- “Não é comparável com a dor de um filho que já nasceu”. Sem dúvida uma das maiores dores que uma pessoa pode ter é a perda de um filho. Antes de falar algo do tipo, pense quanto tempo a pessoa está tentando engravidar? Você sabe os problemas fisiológicos que causaram esse aborto? A Dra. Roseli Mieko Yamamoto Nomura destaca que as causas para o aborto espontâneo são bastante variadas. “As anomalias cromossômicas são responsáveis pela metade dos casos de abortamentos espontâneos. Essas anomalias incluem alteração no número dos cromossomos ou por alterações no caiótipo dos pais. A outra metade dos casos ocorre por alterações na anatomia do útero, miomas uterinos, problemas na saúde materna como diabetes, doenças da tireóide, problemas imunológicos e doenças que afetam a coagulação. Também podem levar ao abortamento espontâneo alterações congênitas relacionadas com infecções, exposição a drogas e remédios que prejudicam a formação do bebê (os medicamentos teratogênicos), febre, tabagismo, uso de álcool e drogas”.
- “Melhor assim, não havia nada aí”. Não há um pensamento mais errado e cruel do que esse. A mãe tem uma conexão especial com o filho desde que começa a achar que está gravida. Alguém dizer que dentro da mãe não tinha nada é nefasto e doloroso.
- “Você estava realmente grávida? ” Quando a mulher engravida ela faz exame de farmácia, depois ela vai faz exame de sangue e ultrassom. Daí ela perde o bebe, vê sangue saindo da sua vagina e sente dor. E tem gente que ainda tem a coragem de perguntar se era mesmo uma gravidez. Não estou brincado, isso aconteceu comigo.
- “Não fique assim, é algo que acontece com frequência”. Essa frase é cruel, apesar de verdadeira. Mas isso não tira automaticamente a dor da perda da mãe. Tenha compaixão.
- “Você já tem outro filho, imagina as mulheres que não tiveram essa sorte” ou “Você deve agradecer pelo que já tem”. Cada gravidez é única. Implica num conjunto de ilusões, esperanças e sonhos. Quem tem filho sabe muito bem que um não substitui o outro.
- “Se você tivesse feito isso…” Quando o aborto espontâneo acontece a mulher já se sente culpada. Aonde o corpo falhou? Foi algo que eu comi? A última coisa que a mãe precisa ouvir é que as coisas seriam diferentes se ela tivesse feito algo diferente.
- “Supere isso, já faz tanto tempo”. Ninguém conhece a dor e medos alheios. Você não tem o direito de julgar os sentimentos de uma mãe e seu luto.
Nada o que você disser vai alivia a dor da mulher que perdeu um bebe. Se não sabe o que dizer, não diga nada. Escute. Lembre-se a mulher que sofreu um aborto espontâneo não precisa de frases nocivas causadas pela sua falta de tato, informação ou sensibilidade. Ela precisa de uma dose de compreensão, empatia e especialmente muito amor e apoio. Deixe-a viver seu luto, até ela superar a perda. Superar a perda não significa esquecer. Pois a morte de um filho não se esquece jamais.